Moradores e autoridades acusam a Copanor, empresa ligada à Copasa de ser responsável pelo caos no sistema de abastecimento de água da cidade.
Indignação e revolta deram o tom da audiência pública realizada
nesta sexta-feira (9) no salão da Paróquia Santo Antonio de Itinga, no Vale do
Jequitinhonha (MG) para cobrar uma solução da Copanor-Copasa Serviço de
Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas-responsável pelo
abastecimento de água da cidade.
Há 20 dias os moradores estão sem água e segundo o prefeito
municipal, Adhemar Marcos Filho (PSDB) o caos foi provocado pela incapacidade
da empresa no gerenciamento do serviço.
Parte da cidade, de 7 mil habitantes, já não possui mais
reservas de água. Um galão de água mineral de 20 litros, cujo valor médio é de
R$ 10 saltou para R$ 32 reais.
“Só temos água para beber”, relatam os moradores.
Na prefeitura, por exemplo, os banheiros foram todos
interditados e os hotéis da cidade estão recusando o recebimento de hóspedes.
A família do estudante Fábio Augusto, de 18 anos, residente no
centro da cidade, estava se valendo de um poço artesiano de um posto de
combustível.
“O poço secou e agora não sabemos como vai ser”, disse o
estudante.
Como medida emergencial, a prefeitura colocou um caminhão pipa
para abastecer os bairros mais afetados.
O advogado Nicolau Laborão criticou a empresa pelo fato dos
consumidores não terem sido avisados do desabastecimento e defendeu o
abatimento de valores nas próximas contas, referente aos dias que a população
não foi servida por um serviço que ela paga.
A cidade é banhada pelo rio Jequitinhonha, mas a captação da
água que abastece a cidade é a feita no Córrego Água Fria, a 7 km do centro. O
córrego está secando.
“Ainda temos abundância de água, mas falta gestão”,
observou o Padre Carlos Magno, ao se referir ao rio Jequitinhonha.
Pressões
Pelo menos 300 pessoas participaram da audiência, convocada por
entidades da sociedade civil, entre elas, Organização de Ministros e Pastores
da cidade, Paróquia Santo Antonio, Sindicato dos Servidores Municipais, dos
Produtores Rurais e AMAI-Associação dos Amigos de Itinga.
A audiência durou cerca de 3 horas e a frase mais ouvida foi “queremos
água”
De acordo com os moradores, o problema vem se arrastando desde
2012 e já provocou outros protestos contra a empresa que pouco tem feito para
melhorar o sistema de abastecimento do lugar. Ela tem a concessão dos serviços
por 30 anos.
No inicio da audiência foi lida uma carta aberta à população,
repudiando o descaso da Copanor para com o sistema de distribuição de água na
cidade.
A carta, assinada pelas entidades que convocaram a audiência,
criticou a Câmara dos Vereadores e a administração municipal que, segundo as
entidades, não tomaram providências emergenciais para solução do problema, como
por exemplo, disponibilizar caminhão pipa para atender a população.
O fato gerou debate acalorado. O prefeito Adhemar Marcos (PSDB) e o presidente da Câmara; Pedro
Jerônimo, se defenderam alegando que não eram responsáveis pelo abastecimento
de água do município e que não possuem poder de gestão da empresa.
“Temos 4 caminhões-pipa para atender principalmente a zona
rural. Apesar da grande demanda, não deixamos de acudir a população da cidade”,
disse o prefeito, lamentando que alguns setores não estavam interessados
na solução do problema mas, apenas em retirar proveito político da situação.
O Procurador Jurídico do município, João Bosco Versiane Gusmão
lembrou que desde que a Copanor assumiu o serviço em 2011, já foram feitas 23
notificações judiciais contra ela e que em 2014 foi ajuizada uma Ação Civil Pública
para normalizar o serviço de abastecimento de água. Segundo ele, atualmente
tramitam na Justiça, duas ações contra a empresa.
Ele disse que uma das ações se refere à taxa de cobrança de
tratamento de esgoto cuja obra não foi feita integralmente, com pedido de
devolução dos valores cobrados dos contribuintes,nos últimos 12 meses.
A empresa não enviou nenhum representante para dar explicações.
Seca
A falta de chuva em níveis normais acentuou o problema do
fornecimento de água de Itinga cuja captação fica a 7 km da cidade.
De acordo com Sandro Chaves, operador do Sistema da Copanor na
cidade, o desabastecimento vai continuar por pelo menos 10 dias.
Ele afirmou que a falta de investimentos em infraestrutura
prejudica o abastecimento.
“Usamos uma antiga adutora da prefeitura e as manilhas que
conduzem a água tem mais de 40 anos. Muitas estouram e o abastecimento fica
prejudicado”, disse Chaves.
Ele afirmou que apesar dos problemas, a água servida é de boa
qualidade.
Para o presidente da Associação dos Amigos de Itinga (AMAI)
Pierre Gusmão, a falta de manutenção do canal condutor da água provocou o
entupimento das manilhas com areia e folhas e por isso a água esta chegando em
conta gotas para os consumidores.
Segundo a comerciante Sueli Mendes, não existe vigilância no
local de captação e tratamento. ”Qualquer um pode entrar lá e fazer o que
quiser. Muitas vezes a água chega suja nas torneiras”, disse ela.
A informação foi confirmada pela proprietária da área. "O
local está muito sujo. Já encontraram até cobras mortas.", lamentou Maria
Inês Ramalho de Oliveira. Ela mora próxima à área de captação da água.
Para o pastor Thiago, o problema de água em Itinga é maior que a
Copanor e que é preciso pensar em soluções para preservar os mananciais e as
matas ciliares dos córregos e rios que estão sendo destruídas.
Soluções emergenciais
Ao final da audiência foram tomadas medidas emergenciais. A
Copanor autorizou a contratação de caminhões pipa para atender a população em
caráter de urgência.
As medidas foram anunciadas pelo deputado estadual Dr. Jean
Freire, que participou da audiência.
Segundo ele, a empresa SANEAR, de Almenara se comprometeu a
fazer a obra de extensão de 150 metros da adutora, com suporte da Copasa, além
da construção de mais uma adutora para captar água do rio Jequitinhonha.
Participantes da audiência defenderam a suspensão do contrato de
concessão da Copanor.
O procurador jurídico da prefeitura João Bosco Versiani,
informou que a empresa investiu R$ 15 milhões no município e que o cancelamento
do convênio obrigaria o município a arcar com os prejuízos.
O deputado Dr. Jean propôs que dentro de 15 dias os cinco
deputados mais votados no município participem de outro encontro para avaliar o
resultado das medidas adotadas.
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