Fred faz
parte do círculo íntimo dos Neves há mais de 20 anos e ganhou benefícios do governo de Minas
Preso
na última semana depois de ser flagrado pela Lava-Jato carregando malas de
dinheiro da JBS para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), Frederico Pacheco é primo
distante do tucano. Mas a relação de confiança e a cumplicidade estabelecida em
mais de 20 anos com o parente sempre o colocou no círculo mais íntimo dos
Neves. Nos anos 90, Pacheco era sócio do então marido de Andrea Neves em uma
empresa de comunicação, relação que se fortaleceu quando virou secretário
parlamentar na Câmara dos Deputados presidida por Aécio (2001 e 2002).
A eleição do tucano ao governo de Minas, em
2003, elevou-o ao cargo de secretário-adjunto de Estado, sob tutela de Danilo
de Castro, o principal operador político dos anos Aécio. Esteve no cargo até
2006, quando assumiu o posto de secretário-geral do governador (2007-2010). Sua
função era cuidar da agenda do tucano.
Dados oficiais apontam que seu salário no
governo variou entre R$ 7,5 mil e R$ 10 mil. Mas ele, segundo O GLOBO apurou, enriqueceu plantando eucalipto no norte de
Minas e sendo beneficiário de um programa do próprio governo, na mesma
época em que era secretário de Aécio.
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No estacionamento da JBS, Mendherson, assessor do senador Zeze Perrella, recebe a mala das mãos de Fred. Os dois foram flagrados pela PF - Agência O Globo |
Pacheco recebeu de graça mudas, insumos e assistência técnica para plantar eucalipto em sua fazenda por meio de uma ONG credenciada no estado para realizar projetos de reposição florestal, financiados por isenção fiscal da indústria madeireira.
Em seu primeiro ano no cargo, ele investiu R$ 33 mil na compra de um terço de
fazenda da Agropecuária Rancho do Campo, localizada em Minas Novas, na região
do Vale do Jequitinhonha. Dez anos depois, ele vendeu por R$ 2,4 milhões
sua participação a um grupo de investidores.
A ONG Apflor, que plantou eucalipto de graça na
fazenda, funcionava no mesmo de endereço de outra empresa de Frederico, a
Tropical Timber Agro-Florestal, que também investiu na produção de eucalipto. O
gestor da ONG, Ricardo Vilela, confirmou ter realizado projetos de reposição
florestal na fazenda de Pacheco. Segundo ele, os investimentos da ONG em várias
propriedades implicaram em renúncia fiscal para empresas equivalente a R$ 29
milhões, entre 2004 e 2010.
No seu período no governo, Pacheco adquiriu
outras cinco propriedades rurais, algumas delas em sociedade com Frederico
Lodi, dono da Topus Construtora, fornecedora do governo de Minas. Entre 2005 e
2013 a empresa recebeu R$ 61 milhões em contratos com o estado. Lodi não
retornou os contatos do GLOBO. Pacheco comprou ainda, no período, pelo menos
1,4 mil cabeças de gado, investiu em café e na aquisição de terrenos em Cláudio
(MG), sua terra natal. Lá ele construiu fazenda vizinha à de Aécio Neves, com
cave e campo de futebol. O defensor de Pacheco, Ricardo Ferreira de Melo,
informou não se posicionar sobre o cliente, por não conhecer nem mesmo “a
decisão que decretou a custódia cautelar".
Por meio de nota, a assessoria do PSDB de Minas
informou nesta segunda-feira que "programas de incentivo à atividade de
cultivo florestal não atenderam a um produtor específico", e geraram
"centenas de empregos, garantindo a reposição florestal no Estado". A
assessoria não comentou eventual conflito de interesses de Pacheco ao exercer o
cargo de secretário-adjunto de Estado e ser beneficiado por programa sob gestão
do Executivo.
Em 2011, Aécio passou o bastão à Anastasia e Pacheco virou
diretor de gestão empresarial da Cemig, estatal de energia. Coordenador
financeiro de Aécio na disputa de 2014, cuidava de questões práticas e de
logística, principalmente envolvendo dinheiro.
Em raro momento de aparição em frente às câmeras,
Pacheco aparece cantando ao lado de Aécio, em uma roda de viola, a música
preferida do tucano, “Tocando em frente”, de Renato Teixeira. Gravado em 2006,
o vídeo está no YouTube. “Ando devagar, porque já tive pressa/ Levo esse
sorriso, porque já chorei demais (...) Todo mundo ama um dia/Todo mundo
chora/Um dia a gente chega/E no outro vai embora”, diz a canção.
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