sexta-feira, 21 de junho de 2013

RIO PARDO-MG: A ARTE DE RECRIAR A RELIGIOSIDADE

Não tinha ideia da vida, de Deus, de nada. Menino moleque lá na miúda cidade de Rio do Prado, no Vale do Jequitinhonha, Aluízio Figueiredo ia às missas todos os domingos, mas, quando o padre faltava, a mãe, Ana Ramos Figueiredo, conhecida como Santinha, reunia os oito filhos na sala, ligava o rádio, e todos se ajoelhavam no chão, como na igreja, e participavam da celebração sonora. Cochilar nem pensar.


O artista plástico Aluízio Figueiredo e os quadros com estampas especiais do Sagrado Coração de Jesus e do Sagrado Coração de Maria



O tempo passou, o menino cresceu, tem 59 anos, se tornou artista de respeito e renome. É admirado. Desse tempo ficou o hábito de rezar todas as manhãs e todas as noites. Missa não é de frequentar muito não.
“Tem coisas na Igreja Católica com que eu não concordo, mas tenho meus santos próximos de mim, e os de minha devoção são vários: Nossa Senhora das Graças (“Maria, passa na frente”), Mãe Rainha, são Judas Tadeu, santo Expedito, Nossa Senhora Aparecida e são Sebastião”, revela Aluízio em seu aconchegante ateliê/loja que batizou de Aluízio Casa, em plena praça Duque de Caxias, no Santa Tereza.

Sua incontestável natureza canceriana impregna o todo. É tudo leve, delicado, colorido, harmonioso e de extremo bom gosto. Uma casinha com cara de lar. Arrumada, perfumada. É aí que o artista expõe seu trabalho, que desabrochou naturalmente.

Reviravolta. A engenharia civil foi escolha dos pais. Depois de formado, trabalhou durante três anos até que decidiu que não era o que queria para sua vida. “Reuniões intermináveis para decidir a mesma coisa”.

Paralelamente, cursava artes plásticas na Escola Guignard e tinha que criar algo a partir de materiais expressivos. “Encontrei uma tela de arame num canteiro de obras. Sabia que tudo na vida pode ser transformado em arte. Fiz um molde, recortei a tela, e dali nasceu uma rosa sem espinhos. Não imaginava que as roseiras do canteiro da minha casa lá no árido Jequitinhonha iriam se transformar em arte”, revela o artista.

Transmutação. A tarefa do menino que diariamente pegava água no rio e a transportava no lombo do burro para regar as rosas de dona Santinha foi decisiva. “Um dia, fazendo uma caminhada, vi uma cerca com arame farpado. Pronto, minha rosa agora tinha espinhos. É incrível como um material tão rude ao toque pode ser transformado em leveza e transparência”, infere Aluízio.


E da rosa nasceu um universo de lustres, luminárias, esculturas de parede, bandejas, quadros, tapetes de parede, caixas de ferro. As rosas ganharam cor e pigmentação, ficaram oxidadas, vermelhas, douradas, envelhecidas. Foram premiadas pela Pinacoteca do Estado de São Paulo e constam do catálogo.

Aluízio não se esquece de Leda, dona da galeria de arte Regard, localizada à rua Marília de Dirceu. “Ela viu meu trabalho com as rosas e os jardins suspensos e colocou na sua galeria. Outros artistas viram e começaram a comprar meu trabalho. Ela me abriu as portas para a arte”, conta ele com gratidão.

Sagrado. E da flor nasceu Maria, e de Maria, o Salvador. As peças que remetem ao sagrado, aos santos de sua infância e aos que foram chegando a sua vida estão dispostas feito altar em sua loja. “Elas vão surgindo naturalmente e refletem a religiosidade presente em minha vida desde a infância. Minha mãe era devota de Nossa Senhora Aparecida, todos os dias rezávamos aos seus pés. A cada dia modifico e acrescento coisas ao meu trabalho. Os santos estão livres, soltos e com luz. Nunca gostei do santo aprisionado dentro de um oratório. Por isso, dei a eles oratórios mais leves, vazados, enfeitados com rosas”.

O ferro e a tela de arame se tornaram marca registrada, mas a criatividade ilimitada do artista vai parindo novas peças, incorporando novos elementos. Os santos subiram em um pedestal, têm aura colorida de rosas. Pérolas contracenam com a ferrugem das telas, com a oxidação dos materiais. Efeito inusitado, harmonioso.

Os Sagrados Corações de Jesus e de Maria estão em estampas especiais, garimpadas em São Paulo. Ganharam moldura à altura de sua importância. São vários os santos, mas, quando o cliente tem devoção especial por um que não está ali, Aluízio faz por encomenda. Os mais procurados são Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora Aparecida.

Ferro e sangue. Tem santo de todo preço e tamanho. Tem uma linha branca com aplicação especial de decalques, tem os dourados.

Certo dia o artista criou uma coroa de espinhos de arame farpado. “Faltava algo, criei uma cruz clássica, toda de metal com desenho e cálculos de engenharia, e não de artista. Pincelei com cristais vermelhos para remeter ao sangue. A ideia veio ao contrário, mas agradou a um padre, que comprou a peça, criou um caminho de pedras e colocou a cruz”, relembra.

Sal grosso. A religiosidade foi permeando outras searas e acabou flertando com a superstição. Surgiram as latinhas batizadas de Divina Proteção. “Desenvolvi uma estampa para a tampa. Dentro da lata vem um Divino Espírito Santo que é imã, fixa-se no fundo da lata ou sobre a tampa, como a pessoa preferir, vira um quadrinho de parede.

Amuleto e decoração. Simples, barato, bem-elaborado. Agrada a todos e virou recordista de vendas”, diz o artista.

A imaginação não para. Um vidrinho singelo ganhou decalque queimado a 540ºC, tampa dourada com a pombinha da paz e um punhado de sal grosso. Pronto, estava criado o Xô Uruca. Vai tripudiar, vai.

O Divino Espírito Santo, que nos proteja, está em enfeites de paredes, móbiles, dentro de amorosos corações com rosas, coração que pulsa. No centro, a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail:anadiniz@terra.com.br
Aneesha Dillon em BH
A terapeuta Aneesha Dillon vai ministrar vivência e treinamento no método terapêutico chamado de “pulsation”, de hoje a 23 de junho e de 24 a 30 de junho. A técnica alia a terapia corporal de Wilhelm Reich e de seu discípulo Charles Kelly com a meditação ativa do místico indiano Osho. O foco são a transformação pessoal, a saúde e uma maior consciência. Informações: (31) 9935-3891, com o médico José Eugênio. O curso será na pousada Rancho Cipó, na serra do Cipó.
Tradição havaiana
Ho’oponopono é o nome do curso sobre conceitos milenares da tradição havaiana cujo objetivo é a redução do estresse e a solução de problemas através da energia colocada nas palavras, nas crenças e na memória. O curso acontece no dia 29 de junho, das 9 às 12h, e será ministrado pela pesquisadora da psicofilosofia huna/kahuna Consolação Monducci. Informações: (31) 3223-3101 e (31) 9643-3773. Avenida José do Patrocínio Pontes, 1.220, Mangabeiras.
Tarô de Marselha
O francês Mickael Jan, tarólogo, numerólogo e fundador da Escola Franco-Brasileira A Roda do Tarô, estará em Belo Horizonte para ministrar o curso de tarô de Marselha, nos dias 22 e 23 de junho, das 10 às 17h. No programa, os arcanos maiores e menores e informações práticas sobre como usar o tarô de maneira intuitiva no cotidiano. Um e-book e um dicionário com mais de 770 palavras-chave são oferecidos. Informações: (24) 3371-7158 e (24) 9221-0888.

Fonte: O TEMPO

Sobre o Autor: Bernardo Vieira
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    Bernardo Vieira

    Sou mais um apaixonado pelo Vale do Jequitinhonha e suas riquezas. Venho, através deste blog, tentar expandir a cultura do vale, bem como trazer novidades e coisas úteis em geral. Formado em Administração pela UFLA - Universidade Federal de Lavras e Funcionário Público Estadual (TJMG). contato pelo email: nabeminasnovas@yahoo.com.br ou bernardominasnovas@hotmail.com.

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