A Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN) mostra
na sua edição de fevereiro um dossiê sobre os 90 anos da Semana de 22. Com
artigos de pesquisadores como Marcos Antonio de Moraes, Bruno Garcia e Antonio
Edmilson Martins Rodrigues, além de entrevista com o filósofo Eduardo Jardim, a
publicação rediscute a importância do modernismo paulista e mostra que o
movimento também foi forte em outras capitais brasileiras, como Rio de Janeiro
e Belo Horizonte. Em seu texto, Marcos Antonio de Moraes analisa correspondências
e crônicas de Mário de Andrade, em que o escritor criticava a própria atuação
na Semana de Arte Moderna. Já Antonio Edmilson Martins Rodrigues defende que o
Rio de Janeiro possuía uma produção cultural de vanguarda mesmo antes do evento
marco do modernismo.
A publicação preparou ainda um especial dedicado a
monstros do folclore brasileiro, que vão além dos famosos Saci, Mula sem Cabeça
e Cuca. Duas reportagens sobre o assunto e artigo do pesquisador Luís Carlos
Mendes Santiago mostram que feras não tão conhecidas como Caboclo-d’água,
Papa-figo, Perna Cabeluda e Bicho da Carneira ainda povoam o imaginário de
muitos brasileiros.
O especial traz ainda entrevista com a historiadora Mary
Del Priore, que explica a trajetória dessas criaturas no Ocidente e afirma que
o homem sempre teve prazer em sentir medo.
Outro destaque da edição é o artigo do ex-ministro Rubens
Ricupero, que lembra os cem anos da morte do Barão do Rio Branco e ressalta a
importância do diplomata para a formação das fronteiras brasileiras.
O lobisomem do Jequitinhonha
Segundo Luís Carlos Mendes Santiago,
um personagem histórico pode se tornar um mito. Mas uma pessoa de carne e osso
pode virar assombração? Foi o que aconteceu com o mineiro Joaquim Antunes de
Oliveira. Após sua morte, ele foi transformado pela imaginação popular no
temível Bicho da Carneira.
Se há um monstro que aterroriza as crianças do Vale do
Jequitinhonha e de boa parte das regiões vizinhas, em Minas e na Bahia, é o
Bicho da Carneira, também chamado de Bicho da Fortaleza, Bicho de Pedra Azul,
Bicho da Rodagem e Lanudo. Esse monstro da mitologia popular assume diferentes
formas. A mais frequente é a de um cachorro preto e grande que aparece ao
entardecer ou depois que a noite cai. Também é descrito como a figura de um lobisomem
ou animal peludo desconhecido na nossa fauna – o Lanudo –, ou um homem sedutor,
ou um personagem misterioso que traja capa escura e aparece nas noites sem lua,
ou ainda como uma pessoa comum. O comportamento também varia: o que usa capa
realiza operações mágicas e seduz mocinhas; o homem comum é reconhecido pelo
apetite fabuloso e pela menção aos familiares; e o animal consome uma
quantidade anormal de alimentos, abate bezerros, ataca cachorros, mata e deixa
feridos, muitos de uma vez só. E as mães ameaçam as criancinhas com aparições
desse monstro se não dormirem cedo.
Esse monstro foi um dia Joaquim Antunes de Oliveira,
nascido em 1799, no norte de Minas Gerais, entre os rios São Francisco e
Jequitinhonha. Teve três esposas, Francelina, Bernardina e Manoela, que lhe
deram 15 filhos. Viveu na região de São José do Gorutuba, próximo à Janaúba de
hoje, área então pertencente ao município de Grão Mogol. Dali se mudou, na
década de 1860, para a nascente povoação de Catingas, e depois para Fortaleza, hoje
Pedra Azul, onde faleceu no final do século XIX. O genealogista que registra o
ano do seu nascimento, Valdivino Pereira Ferreira, também anota o ano em que
morreu, 1876, mas sua assinatura ainda aparece em livros cartoriais da cidade
de Jequitinhonha na década de 1880.
Revista de História da Biblioteca Nacional
Lançada em 2005,
a Revista de História da Biblioteca Nacional é a única
em seu segmento editorial especializada em História do Brasil e traz, a cada
mês, reportagens e artigos assinados por importantes historiadores e
sociólogos. A publicação é mensal e vendida em bancas de todo o país. Seu
conselho editorial é formado por Alberto da Costa e Silva, Caio César Boschi,
João José Reis, José Murilo de Carvalho, Laura de Mello e Souza, Lilia
Schwarcz, Luciano Figueiredo, Marcos Sá Corrêa, Marieta de Moraes Ferreira,
Ricardo Benzaquen e Ronaldo Vainfas.
Fonte: Bagarai
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