Projeto-ação da
Geografia promove intercâmbio de conhecimento e cultura entre duas comunidades
do Vale do Jequitinhonha, auxiliando no desenvolvimento de hortas
agroecológicas e na difusão do artesanato em cerâmica.
Texto: Bárbara Altivo
Artesanato em cerâmica na comunidade de Moça Santa - Chapada do Norte |
Os conhecimentos produzidos na universidade podem auxiliar
no desenvolvimento sustentável de comunidades rurais? O núcleo Terra &
Sociedade de Estudos em
Geografia Agrária , Agricultura Familiar e Cultura Camponesa,
ligado ao IGC, arregaça as mangas para encarar o desafio lançado. E, nesse
sentido, atua o projeto de extensão "Capacitação cidadã entre as mulheres
agricultoras familiares e produtoras de alimentos em comunidades quilombolas de
Chapada do Norte e de artesãs do Córrego dos Coqueiros - Minas Novas",
dirigido pela coordenadora do Terra & Sociedade e professora do
Departamento de Geografia da UFMG, Maria Aparecida dos Santos Tubaldini, e por
sua orientanda de doutorado e diretora de projetos do núcleo, Lussandra Martins
Gianasi.
Coordenadora do núcleo Terra & Comunidade, Maria Aparecida Tubaldini |
O projeto, segundo Maria Aparecida, baseia-se em ações planejadas a partir de
um amplo trabalho de mapeamento e análise da agricultura familiar no recorte
territorial de Capelinha, Minas Novas e Chapados do Norte, no Vale do
Jequitinhonha, processo realizado em parceria com o professor da UFMG, José
Antônio de Deus, da área de Geografia Cultural, e Bernardo Machado Gontijo, da
área de Biogeografia, bolsista de iniciação científica e mestrandos. O objetivo
desse primeiro trabalho, que durou dois anos, foi identificar alternativas
sustentáveis para as atividades socioagrícolas das regiões sondadas. “A questão
teórica que sustentou essa etapa e sempre permeia as nossas pesquisas é o
desenvolvimento sustentável, que envolve três dimensões: a socioeconomia, o
meio ambiente e a cultura”, explica a coordenadora. Dessa forma, ela ressalta a
importância de tomar o território trabalhado para além de sua configuração
dimensional, considerando as relações de poder estabelecidas, a sociabilidade
existente, os laços de solidariedade, bem como a identidade cultural da
população.
Ao longo do trabalho de mapeamento e análise da agricultura familiar no Vale do Jequitinhonha, a comunidade quilombola Moça Santa, na Chapada do Norte, destacou-se por apresentar carência na alimentação. A região, se comparada com as outras que integraram o estudo, conta com índice significativo de pobreza. A comunidade reivindicou ao grupo Terra & Sociedade uma ação voltada para a melhoria do plantio para alimentação, ou seja, o aprimoramento do cultivo de verduras e legumes. Outra demanda específica de Moça Santa, que também faz parte do projeto de ação para capacitação cidadã, diz respeito ao aprendizado de técnicas artesanaisem
cerâmica. O pedido é motivado pelos ganhos econômicos da
atividade, mas também pelo recorrente uso de potes e panelas de barro pela
população local.
O núcleo da UFMG, para atender a essa última necessidade apresentada, apostou no diálogo entre Moça Santa e a comunidade de Coqueiro Campo,em Minas Novas , já com
tradição no artesanato em
cerâmica. Assim , uma artesã dessa comunidade ministrou cursos
sobre a atividade em
Moça Santa. Coqueiro Campo, por sua vez, reivindicou também a
ajuda do núcleo para montar hortas alimentares. Como conta Lussandra Martins,
para concretizar a interlocução das duas populações camponesas, foi realizada
uma visita solidária. No total, 35 mulheres quilombolas de Moça Santa
foram para Coqueiro Campos com a intenção conhecer os processos de cerâmica do
local e fazer apresentação artística, com o grupo de dança Curiango, do qual
fazem parte. “Falamos de um intercâmbio de conhecimento e cultura. Uma
comunidade visita a outra para conhecê-la e enxerga ali as potencialidades para
reverter a sua realidade a partir dessa integração”, afirma Lussandra. Para
Maria Aparecida, esse momento de contato age motivando e sensibilizando as
mulheres de ambas as comunidades.
Ao longo do trabalho de mapeamento e análise da agricultura familiar no Vale do Jequitinhonha, a comunidade quilombola Moça Santa, na Chapada do Norte, destacou-se por apresentar carência na alimentação. A região, se comparada com as outras que integraram o estudo, conta com índice significativo de pobreza. A comunidade reivindicou ao grupo Terra & Sociedade uma ação voltada para a melhoria do plantio para alimentação, ou seja, o aprimoramento do cultivo de verduras e legumes. Outra demanda específica de Moça Santa, que também faz parte do projeto de ação para capacitação cidadã, diz respeito ao aprendizado de técnicas artesanais
O núcleo da UFMG, para atender a essa última necessidade apresentada, apostou no diálogo entre Moça Santa e a comunidade de Coqueiro Campo,
Mas afinal, por que o projeto volta-se especificamente
para as mulheres camponesas? Maria Aparecida salienta que todos os homens
migram para trabalhar na colheita do café e no corte da cana-de-açúcar,
principalmente na região de São Paulo. Nesses períodos de viagem, algumas
mulheres permanecem na comunidade com o objetivo de cuidar das crianças
menores. Assim, elas são as potenciais artesãs e responsáveis pelas hortas
alimentares.
Em trabalho de campo, Terra & Sociedade realizou, junto à população camponesa de Moça Santa e Coqueiro Campo, montagem de canteiros agroecológicos. “Consideramos que cada família deveria possuir pelo menos dois canteiros de até três metros para o cultivo de diferentes alimentos”, diz Maria Aparecida. Mas, ao invés de impor seus conhecimentos à comunidade, os geógrafos do núcleo buscam resgatar e aproveitar os hábitos e saberes locais. Maria Aparecida e Lussandra esclarecem que as hortas já existiam, muito pequenas, configurando um verdadeiro quintal agroecológico, “um oásis que permite que eles tenham sombra, que é favorável ao plantio”, comenta a primeira. As mulheres já dominavam, por exemplo, o uso de biodefensivos, como o fumo e o alho. Além disso, a existência de gado na região representou a matéria orgânica para a produção: o esterco de boi, transformada em “compostagem”.
Apresentação do grupo de dança quilombola Curiango |
Os resultados das ações do núcleo já podem ser observados.
O próximo passo, expõe Maria Aparecida, é desenvolver processo de educação alimentar das comunidades. Uma vez colhidas as verduras e legumes, como introduzi-los na mesa das pessoas? Uma resposta seria conjugar os novos sabores a ingredientes já conhecidos. “Uma pegada são as farofas. O ovo e a farinha já fazem parte da tradição deles. Não podemos romper com os hábitos existentes, para conseguir atrair o paladar, principalmente das crianças, para uma alimentação mais saudável.”
Além disso, serão distribuídas cartilhas educativas elaboradas pelas professoras Valéria Roque, Sandra Maria Lucas Pinto Silva e a mestranda Gisele Miné sobre diversos temas, dentre eles, a questão cultural e territorial das comunidades, bem como dicas para a confecção da cerâmica, com a professora Valéria Amorim e Adriana Monteiro. A cartilha sobre a produção das hortas agroecológicas éobjeto específico da professora Maria Aparecida Tubaldini e orientandos de extensão e iniciação científica. A parte cartográfica está sob a supervisão da doutoranda Lussandra Gianasi. O intuito é que a população tenha acesso ao conhecimento construído ao longo do projeto.
Fonte: FAFICH - UFMG
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