Em 10/09/2011 às 20:07 horas, "Maria do Rosário Sampaio
Prof. Dr. Pedro Ângelo Abreu
Reitor da UFVJM
Prezado Senhor:
Agradecemos-lhe a resposta e seus esclarecimentos, ocasião em que informamos que a esta seguirá para o grupo que ora se envolve na luta pelos pólos da UFVJM.
Entretanto, a mensagem que ora lhe envio diz respeito unicamente às posições do grupo que represento, o Grupo de Mulheres Mobilizadas de Capelinha e Movimento Muda Capelinha. Naturalmente, os demais grupos lhe enviarão mensagem de teor próximo ao que aqui observamos: nosso diagnóstico sobre a região e demanda são os mesmos.
Começaríamos registrando algo semelhante ao início de sua mensagem: concordamos em parte com o sua análise, porém, há pontos sobre os quais, com a sua licença, julgamos merecer nossas considerações. Para sermos breves, enunciaremos-as itemizadas:
1 - Segundo V.S.a, as duas cidades - Unaí e Janaúba - não possuem pólos de universidade publica. Todavia, não é esta a informação que consta em site da própria UNIMONTES e em nota de Jornal (informação que lhe foi enviada em mensagem antecedente). Dai, a nossa afirmação continuar prevalecendo. Além disso, conveniente lembrar que Onze está rodeada de universidades por todos os lados: 1h30m de Brasília, 2 horas da Federal de Uberlândia e um pouco mais, chega-se á Universidade Federal de Uberaba. Para Janaúba, além dos pólos, há a proximidade de Montes Claros.
A nossa pergunta: Que Universidade pública se encontra sediada nas proximidades de Araçuaí, Almenara, Capelinha, Jequitinhonha ou Pedra Azul? Nada em MG se assemelha à situação do Vale do Jequitinhonha.
2 - Poderíamos também argumentar sobre economia das cidades: Unaí possui um PIB indiscutivelmente maior que qualquer uma das cidades do Vale. Um PIB suficiente para que a família Mânica, da oligarquia local, mande assassinar fiscais do MTE e continue com o seu mandato. Unai não precisa de Jequitinhonha. Ela poderá recorrer as Universidades de região mais próxima: O Triângulo Mineiro, que de tão rico, almeja sua emancipação ou ao DF.
3 - Se as duas cidades estão exultantes, as cidades do Vale sentem justamente o oposto: sentem-se traídas, desoladas e decepcionadas conforme expressam em seus blogs, sites, rádios e jornais. A carta da Diocese de Almenara traduz bem o sentimento do Jequitinhonha depois do anúncio da Presidente Dilma abordando o tema.
4 - Acreditamos que uma universidade pública não tem que visar apenas o desenvolvimento econômico, mas, sobretudo o social e o humano: O Jequitinhonha, talvez, não apresente todo o potencial econômico a que V.S.a se refere para Unai e Janaúba. Por isto mesmo merece ter pólos de modo que induzam seu desenvolvimento social. O Vale expulsa milhares de trabalhadores para outras terras: se uma universidade apenas reduzisse o histórico fluxo migratório da região já teria cumprido sua função mais nobre: colaborar para que os grupos sociais sejam mais felizes ou dito de outro modo: reduzir o sofrimento dos diversos grupos sociais.
5 - Imaginamos o estado de exultação das duas cidades preferidas: queríamos dizer o mesmo sobre as nossas, as preteridas. E também não somos contra o atendimento a todas as cidades, antes, porém, temos o Jequitinhonha para atender. Quando foi criada a UFVJM criou-se também as melhores expectativas. Todos acreditavam que ter pólos da universidade do Jequitinhonha em seu território era uma questão de tempo: aguardava-se a consolidação desta fase para que uma outra fosse alavancada. Surpreendentemente, a Presidente Dilma anunciou pólos em outras cidades de IDH incomparável com o apresentado pelo Jequitinhonha. Se a nossa Universidade não apóia o desenvolvimento de sua região, quem o fará?
6 - Em relação aos pólos da UFMG: esta universidade jamais criou no povo do Vale qualquer expectativa. Desde que ela existe, o Vale tem sido tão somente seu objeto de estudo e alvo de ações pontuais, quando não são projetos de "atalhos". A ela, o Vale doou muito: parte das pesquisas que qualificam seus doutores e seus cursos basearam-se no povo do Jequitinhonha.
7 - Ademais, não cremos que se usou o pronome possessivo sem qualquer intencionalidade: a UFMG deve ser de todo estado, conforme indicado em seu nome, ao passo que a Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, segundo seu título, devem ter estas regiões como prioritárias. Ou o nosso entendimento estaria equivocado?
8 - Quanto ao processo político do Vale que V .Sa apontou,cremos ser procedente lembrar que a sociedade civil do Jequitinhonha dos dias correntes em nada se parece com aquela dos anos 70 : a demonstração mais cabal do que se afirma encontra-se na forte reação que hoje encontram a Reitoria e CONSU da UFVJM .
9 - Finalmente registramos que as 246 teses e dissertações sobre o Jequitinhonha - somente nos anos 2005-2010 - boa parte aponta suas deficiências em termos de políticas publicas graças à sazonalidade de seus profissionais.Antes disso, como cidadã interessada em minha terra,constatei, no cotidiano, a chegada de profissionais de saúde, de engenheiros e outras disciplinas, que tão logo atingiam seu objetivo, iam em busca de outras cidades, provavelmente em cidades nas quais residiam suas famílias. Ilustra este fato a recente tentativa de contratação de médico por uma prefeitura de cidade do Vale, a qual, mesmo oferecendo 15.000,00/mês, não conseguiu nenhum candidato á vaga.
Capelinha, o segundo e discutível "PIB" da região, não possui médicos oftalmologistas, nem psiquiatras, nem ortopedistas, nem pediatras, nem sociólogos, nem engenheiros, etc., etc., etc.
Continuaremos a lutar enquanto for hora de luta: agora! País rico é País sem miséria. As universidades públicas devem dar a sua contribuição não onde tudo está feito, mas, nos lugares onde tudo está por se fazer!
Cordialmente,
Maria do Rosário Sampaio E Grupo de Mulheres Mobilizadas pelo Ensino Superior Publico em Capelinha e Movimento Muda Capelinha
Maria do Rosário Sampaio (Zara Sampaio)
FUNDACENTRO-MTE
Pesquisadora CRMG
Pesquisadora CRMG
31 3273.3766
PPGSS/UERJ
Resposta do Reitor Prof. Dr. Pedro Ângelo Abreu
Concordo com a maior parte das suas colocações e análises. No entanto, deve ser frisado que quando mencionei Unaí e Janaúba como cidades que não tinham pólos universitários, me referi a campus vinculados a IFES (com isso não estou desmerecendo a qualidade dos cursos da UNIMONTES) e sim destacando que a política de Estado da Educação Superior é assentar campus conforme uma distribuição regular que ocupe todas as meso-regiões do território nacional, inclusive nos estados com expressiva ocupação de universidades estaduais (São Paulo, Bahia, Paraná e Santa Catarina - veja que a recém criada Univ. Federal do Sul da Bahia terá sede em Itabuna, a 14 km de Ilhéus, onde se situa a sede da UESC- Univ. Estadual de Santa Cruz).
Por outro lado, não considero que uma universidade pública vise apenas o desenvolvimento econômico, desde que a maior virtude de uma Academia é formar cidadãos, independente da qualificação técnica adquirida na Universidade e, portanto, com um significado muito especial no que tange ao social e humano. Tenho convicção das transformações que o vale do Jequitinhonha vem sofrendo com o retorno de seus cidadãos como egressos da UFVJM, certamente participando de forma efetiva na construção de uma sociedade mais crítica e, por consequência, mais organizada. Obviamente que esse processo pode ser maximizado com a implantação de outros campi pelos vales do Jequitinhonha e Mucuri e isso é uma bandeira da UFVJM. Deve ser destacado mais uma vez, que a UFVJM ou sua reitoria participaram dessa última decisão de implantar novos campi, após a decisão tomada fomos comunicados da intenção do MEC vincular os dois únicos campi destinados para Minas Gerais à UFVJM. O critério da escolha, segundo o secretário da SESu, baseou-se no fato da UFVJM ser a única IFES com sede na metade norte do Estado e, ao mesmo tempo, visando agregar uma maior "musculatura" à Instituição. Creio que esses critérios são passíveis de questionamentos, mas volto a afirmar que os campi de Unaï e Janaúba representam uma decisão irreversível, independente de serem vinculados a UFVJM ou a outra IFES.
Reitero que conheço relativamente bem o Vale do Jequitinhonha e tenho observado a sua evolução desde os anos 70, inclusive no que tange as organizações sociais, no entanto reafirmo que essas organizações ainda não trabalham - estrategicamente - em conjunto pela defesa coletiva dos territórios.
Não creio que devamos nos acomodar, pois tenho convicção que o Estado Brasileiro já dispõe de riqueza suficiente para arcar com o financiamento da implantação de campi universitários em territórios como os do Jequitinhonha e Mucuri. Veja que por ocasião do REUNI foi criada a UNIPAMPA para atender a região mais pobre e carente do sul do Brasil (a metade sul do Rio Grande do Sul) e de uma só vez foram implantados 6 campi naquele território.
Façamos os movimentos e encaminhamentos cabíveis, mas a pressão e o descontentamento devem ser levados ao MEC e à Presidência da República e não à UFVJM, que na verdade é uma parceira nessa luta.
Atenciosamente,
Pedro Ângelo
Leia Mais:
Abaixo-Assinado. Povo do Vale se movimenta para ter Universidade perto de sua casa.
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