Dados
da Pastoral da Terra mostram que o número de conflitos praticamente dobrou nos
últimos dois anos.
"Sofremos ameaça. Estamos aqui sem assistência
nenhuma, com medo. Somos humildes e analfabetos. Só queremos resolver tudo na
Justiça. Não queremos violência. Por favor, nos ajude". O apelo, feito por
telefone ao Hoje em Dia , é de J.B.A., um pequeno produtor rural do Norte de
Minas que pediu anonimato e diz ter tido suas terras tomadas por grileiros da
região.
O drama de J.B.A. não é um caso isolado.
Levantamento da Comissão Pastoral da Terra armazenado no banco de dados da
Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostra que o número de conflitos por
terra em Minas praticamente dobrou nos dois últimos anos. Em 2009, foram 16
ocorrências no Estado, envolvendo 874 famílias. No ano passado, o número de
ocorrências subiu para 31, englobando 2.457 famílias.
A intensificação dos conflitos no campo se reforça agora com a operação "Grilo", desencadeada por promotores e policiais federais. No Norte de Minas e vales do Jequitinhonha e Mucuri estão sendo identificados diversos casos de grilagem de terras.
A Comissão Pastoral da Terra e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa denunciam a participação da Polícia Militar em ações de grileiros.
A intensificação dos conflitos no campo se reforça agora com a operação "Grilo", desencadeada por promotores e policiais federais. No Norte de Minas e vales do Jequitinhonha e Mucuri estão sendo identificados diversos casos de grilagem de terras.
A Comissão Pastoral da Terra e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa denunciam a participação da Polícia Militar em ações de grileiros.
Há 15 dias, parlamentares estaduais estiveram em São João das Missões (Norte)
junto com policiais federais para evitar que índios fossem expulsos da reserva
Xacriabá. Em outra frente, foi necessária a inclusão de uma testemunha no
programa de proteção estadual, em Salto da Divisa (Jequitinhonha), onde
pequenos agricultores também foram vítimas de grileiros.
Segundo a Pastoral da Terra, estudo encomendado à Universidade Federal de Ouro
Preto (Ufop) mostra que um terço das terras do Estado são devolutas. Estas
áreas e as vizinhas a elas constituem o principal alvo dos grileiros. "Os
posseiros e pequenos proprietários vêm, gradativamente, sendo encurralados.
Ainda mais com a pressão das monoculturas de eucalipto e cana- de-açúcar, além da mineração. É muito comum nessas regiões o fazendeiro e a empresa terem escritura de uma determinada área de terra e alegar possuir 20, 30 vezes mais, expulsando quem já mora na propriedade há décadas", afirma Frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra.
O deputado estadual Durval Ângelo (PT),
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, avalia que "o
barril (de pólvora) está prestes a explodi r". "Vamos ter um processo
de acirramento muito grande. Hoje, o Norte de Minas está pegando fogo", afirma.
Segundo ele, além dos posseiros e agricultores, índios e quilombolas sofrem com
a ação dos grileiros em Minas.
Cara a cara com a morte: Irmã Geraldina vive
tentando driblar seus algozes ao lado de 85 famílias de sem-terra no Salto da
Divisa (MG).
Um calafrio percorreu o corpo franzino da
religiosa quando uma voz masculina previu um destino trágico para ela: “Você só
vai parar quando acontecer com você o mesmo que aconteceu com a irmã Dorothy
Stang (1)”.
Tem sido assim, marcados pelo terror, perseguições
e ameaças, os últimos três anos da vida da irmã dominicana da Congregação
Romana de São Domingos, Geralda Magela da Fonseca, de 47 anos, ou irmã
Geraldinha, que luta ao lado de 85 famílias de sem-terra no município de Salto
da Divisa, no Vale do Jequitinhonha (MG), uma das regiões mais pobres do mundo.
Há pelo menos um mês, irmã Geraldinha vive
como foragida. Deixou a cidade e nunca sabe aonde vai dormir para tentar
driblar seus algozes, que a ameaçam desde 2006. Como proteção, conta apenas com
a ajuda de amigos. A polícia afirma que, até que fique comprovada a veracidade
das ameaças registradas em vários boletins de ocorrências, não pode fazer nada.
Foi assim também com a irmã Dorothy, que recebeu inúmeras ameaças até que sua
luta foi encerrada com seis tiros: um na cabeça e cinco no corpo.
Apesar da fé, irmã Geraldinha confessa que
vive hoje com medo e admite que são muitas as semelhanças de sua luta com a
missionária Dorothy, mas, independentemente do risco, garante que vai retornar
ao acampamento na Fazenda Manga do Gustavo, vizinha à Fazenda Monte Cristo,
pertencente à Fundação Tinô Cunha, que está em processo de desapropriação. A
área já foi considerada improdutiva, mas o processo nº 54170003519/2005-30,
para desapropriação, ainda se arrasta na burocracia federal e faz com que o
clima fique ainda mais tenso na região, que tem como característica os grandes
latifúndios.
Fonte: Hoje em Dia e Assincra-MG
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