Por Roberto Lima
Tadeu Martins é um grande sujeito das Minas Gerais, mais exatamente de
Itaobim, cidadezinha do Vale do Jequitinhonha fincada às margens da BR-116, a velha Rio-Bahia.
Trata-se de um amigo dos bons, daqueles que a gente coloca na prateleira
de cima e que, à mesa, tem lugar cativo do nosso lado direito.
Professor de química em Belo Horizonte , cidade para onde se mudou após
completar o ginásio em
Teófilo Otoni , fez nome como funcionário da Secretaria de
Turismo de Minas Gerais, tendo ajudado a criar vários festivais de música em
todo o Estado. Hoje é diretor de operações da Belotur e, entre muitas outras
façanhas, transformou Newark e Belo Horizonte em cidades irmãs.
Seu Vale do Jequitinhonha é uma das regiões mais ambíguas de Minas
Gerais e do Brasil.
O povo é manso, com vocação para a arte, devotado, seresteiro, escultor
do barro, adepto das folias de rei e do congado.
A terra onde pisa, nem tanto.
De suas entranhas ainda hoje saem pedras preciosas e semipreciosas,
mas a riqueza quase que pára por aí.
O Vale é seco, um desperdício de terra árida e intrigantes contrastes.
Cortado pelo leito caudaloso do rio que lhe empresta o nome, o
Jequitinhonha é um tremendo mosaico de grandezas e misérias, com sua gente
valorosa dando alento ao mundo.
Os cantores Tadeu Franco, Paulinho Pedra Azul e Saulo Laranjeira e os
poetas Gonzaga Medeiros e Saldanha Rolin são algumas destas pessoas de grande
valor.
O poeta e cordelista Tadeu Martins é outra “onha desse Jequi”.
Lendo seu livro Jogando Conversa Fora, esse delicioso exercício
cordelista, tenho muitas surpresas boas. Numa delas, Tadeu mostra ao mundo o
dialeto “jequitinhonhês”, que nada mais é que o jeito de sua gente falar.
De seus versos tirei algumas pérolas, que divido aqui com vocês:
“Resfriado é difruço
Nome de rã é caçota
Quilo e meio pra nós é prato
E carro de mão é galinhota
Derrancado é estragado
Inginhar é encolher
Crocodilar é trair
Inricar é enriquecer
Conversa fiada é ingrisia
E bater caçuleta é morrer
Zanzar é andar sem rumo
E obrar é defecar
Apurado é caboclo nervoso
E ouvir é assuntar
Trabalho pesado é barrufo
E escrever é assentar
Veronca é uma moeda qualquer
Ana é o apelido de um cruzeiro
Nica também é moeda
E puba quer dizer dinheiro
Doutor é o nome do urinol
E goró é caboclo roceiro
Restojo é o mesmo que resto
E ruir é destiorar
Visage é assombração
E zunir é arremessar
Nascida é nome de furúnculo
E tinir alguém é matar
Gibeira é bolso da calça
Que nunca anda lotado
Ficar pensando é bistuntar
Cubar é olhar de lado
Desinxavido é inexpressivo
E caboclo elegante é espigado
Arrigestir é resistir
Melar quer dizer buzuntar
Ajutório é o mesmo que ajuda
Cobrir o corpo é ribuçar
Fôrgo é o apelido do fôlego
E dar fôrgo morto é roubar
Burriscar quer dizer rabiscar
A leitura é sabedoria
Coxé é quem manca muito
Encheção de saco é livuzia
Pipôco é o mesmo que estrondo
E cartilogência é categoria
Tiçar a mão, picar o tapa
Tudo significa bater
Pêia é caboclo esperto
Incapaz de esmorecer
Deu upoa é ficou difícil
Mas foi fácil você entender”
Entendeu?
Fonte: Brazilian Voice
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