quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O JEQUITINHONHÊS DO TADEU MARTINS

Por Roberto Lima

Tadeu Martins é um grande sujeito das Minas Gerais, mais exatamente de Itaobim, cidadezinha do Vale do Jequitinhonha fincada às margens da BR-116, a velha Rio-Bahia.

Trata-se de um amigo dos bons, daqueles que a gente coloca na prateleira
de cima e que, à mesa, tem lugar cativo do nosso lado direito.

Professor de química em Belo Horizonte, cidade para onde se mudou após completar o ginásio em Teófilo Otoni, fez nome como funcionário da Secretaria de Turismo de Minas Gerais, tendo ajudado a criar vários festivais de música em todo o Estado. Hoje é diretor de operações da Belotur e, entre muitas outras façanhas, transformou Newark e Belo Horizonte em cidades irmãs.

Seu Vale do Jequitinhonha é uma das regiões mais ambíguas de Minas Gerais e do Brasil.

O povo é manso, com vocação para a arte, devotado, seresteiro, escultor do barro, adepto das folias de rei e do congado.
A terra onde pisa, nem tanto.

De suas entranhas ainda hoje saem pedras preciosas e semi­pre­ciosas, mas a riqueza quase que pára por aí.

O Vale é seco, um desperdício de terra árida e intrigantes contrastes.
Cortado pelo leito caudaloso do rio que lhe empresta o nome, o Jequitinhonha é um tremendo mosaico de grandezas e misérias, com sua gente valorosa dando alento ao mundo.

Os cantores Tadeu Franco, Paulinho Pedra Azul e Saulo Laranjeira e os poetas Gonzaga Medeiros e Saldanha Rolin são algumas destas pessoas de grande valor.

O poeta e cordelista Tadeu Martins é outra “onha desse Jequi”.

Lendo seu livro Jogando Conversa Fora, esse delicioso exercício cordelista, tenho muitas surpresas boas. Numa delas, Tadeu mostra ao mundo o dialeto “jequitinhonhês”, que nada mais é que o jeito de sua gente falar.

De seus versos tirei algumas pérolas, que divido aqui com vocês:

“Resfriado é difruço
Nome de rã é caçota
Quilo e meio pra nós é prato
E carro de mão é galinhota
Derrancado é estragado
Inginhar é encolher
Crocodilar é trair
Inricar é enriquecer
Conversa fiada é ingrisia
E bater caçuleta é morrer
Zanzar é andar sem rumo
E obrar é defecar
Apurado é caboclo nervoso
E ouvir é assuntar
Trabalho pesado é barrufo
E escrever é assentar
Veronca é uma moeda qualquer
Ana é o apelido de um cruzeiro
Nica também é moeda
E puba quer dizer dinheiro
Doutor é o nome do urinol
E goró é caboclo roceiro
Restojo é o mesmo que resto
E ruir é destiorar
Visage é assombração
E zunir é arremessar
Nascida é nome de furúnculo
E tinir alguém é matar
Gibeira é bolso da calça
Que nunca anda lotado
Ficar pensando é bistuntar
Cubar é olhar de lado
Desinxavido é inexpressivo
E caboclo elegante é espigado
Arrigestir é resistir
Melar quer dizer buzuntar
Ajutório é o mesmo que ajuda
Cobrir o corpo é ribuçar
Fôrgo é o apelido do fôlego
E dar fôrgo morto é roubar
Burriscar quer dizer rabiscar
A leitura é sabedoria
Coxé é quem manca muito
Encheção de saco é livuzia
Pipôco é o mesmo que estrondo
E cartilogência é categoria
Tiçar a mão, picar o tapa
Tudo significa bater
Pêia é caboclo esperto
Incapaz de esmorecer
Deu upoa é ficou difícil
Mas foi fácil você entender”
Entendeu?

Sobre o Autor: Bernardo Vieira
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    Bernardo Vieira

    Sou mais um apaixonado pelo Vale do Jequitinhonha e suas riquezas. Venho, através deste blog, tentar expandir a cultura do vale, bem como trazer novidades e coisas úteis em geral. Formado em Administração pela UFLA - Universidade Federal de Lavras e Funcionário Público Estadual (TJMG). contato pelo email: nabeminasnovas@yahoo.com.br ou bernardominasnovas@hotmail.com.

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